sábado, 27 de setembro de 2008

Sem anseime

Sou lábios de incertezas, dentes de interrogação,
Uns dias ladro, e mordo, outros falo e perco razão.


Mas não engulo sapos, isso não.
em cru, olhos fixos, encurralado,
preso no objecto perdido e pressionado,
sinto o mudar de pele, o mudar de penteado,
fazer peeling, cortar o encaracolado,
ser imagem não gravada, ser sem registo,
dactilografado,
digito, personalidade, sem personagem,
respirar apenas três vezes, existir,
apenas ser, ser capaz,
ser cru, não assar, ser assaz. não pensar

Leito

Eras a corrente e eu o rio…
Talvez pequeno ribeiro.
Movimentavas a minha força,
Forçavas-me a ter determinação,
Determinavas o meu tempo,
Temporalizavas o meu espaço,
Espaçavas-me as obrigações,
obrigavas-me a acreditar,
Credibilizavas a minha duvida,
Duvidavas da minha coragem,
Encorajavas a minha vida,
Vivias a minha vida,
Vivias a minha…
Eu era apenas a água;
Tu eras a força, o espaço, a margem,
Só em ti me podia movimentar.

RTP 2

Suspiro no ouvido, auricular,
Vejo, relembro, não consigo retratar,
Difuso e fosco, longe,
Passado de segundos, segundo plano,
em boca de cena sem teatralizar,
Apenas monologo,
Não respondo, não oiço, preso sem gesticular.
Sem personagem não espero godot,
nem que moliere me desperte,
Bate-me sem entranhar.


Segunda cena, cenário, seguir sem ultrapassar,
Medo rufia, escultura de altar,
Quase sagrado, respirar seco, soluçar,
Gelo, suor, difuso no olhar.
Fico em casa.

Darwin

Deixemo-nos de obstáculos,
Não temos rédea nem forças
Para sustermos o animal.
Temos aposta na velocidade
Mas requeremos técnica e apresentação.
Neste momento estamos à prova
E sabemos os requisitos,
guardamos amuletos somente para não dar azar.
Deixemo-nos de irreal,
Tenho forças para pegar os cornos,
Sou Darwiniano animal,
De subespécie sem parentesco,
Sub-cave, anti-social,
da periferia, à margem da marginal,
em mim , centro da questão, consciência moral.

Klint

Não resisto ao beijo
e entrelaço movimentos de boca,
Talvez excessivos,
Nos teus olhos,
Na cova da bochecha,
E no alto detrás da orelha.
Deixo sem preocupação licor terno,
o olhar, de novo, beijar, sem tempo,
Sem recordar, guardo.
Não resisto ao amor de mim,
amo-me, beijo-me, mimo-me, em ti.

Já passou...

Bebo mas não esqueço a situação impossível,
Onde morro, desespero, e resisto
Olho tudo como nada.
Tenho medo do toque do telemóvel,
Imóvel e irrequieto; não me deixo tocar.
Tento passar, mas não esqueço.
Sinto o fim da linha e não me consigo desligar,
Entregue e resignado, impotente.
Eu não sou assim.

Palavra chave

A tua essência neste fumo desenhada,
É perfume de incenso comum,
A vida queima,
Sem a cadencia do verso,
Repetindo, sem descanso, repetindo.


Os sons acompanham as sílabas, e meias palavras
As mãos são ecos e inibições, ecos.


Decoramos palavras-chave,
Abrimos portas, fugimos ao inverso,
Derretemos a sola dos sapatos, sem ritmo, sem sentido
Aquecemo-nos de pena, escaldámos o capilar,
A vida queima, é senso comum.