sexta-feira, 26 de dezembro de 2008

O bairro fechou às duas por três,abrimos garrafa.

às duas solta-me a tampa e a tua paciência,
mudàmos de lugar

às três perdemo-nos, apenas,
coito ninho santo.

Sexta feira santa.

Fomos para Santos, já era Sábado.

Nem nasceu Jesus,
nem fos-te beatificada.

Somos pó carne, da madrugada.

C.T.T:

Por vezes tenho asma, noutras não sei respirar,
suspiro, não guardo e desespero,
sem tempo ou lugar,
sou subir de escadas, respiracão de boca na boca.

Tenho lábios de sieiro, batom hidratação,
umas vezes no beijo,
outras seco, sozinho.

Mando barulhos no indicadores, sem morada
quem não recebe, não pede destinatário.
Entregue

Correio azul sem pressa.

terça-feira, 25 de novembro de 2008

reliquias poulares 1

se não consegues chegar a horas, chega mais cedo.

reliquias populres 2

És uma bela joia, para o pescoço de um burro.

sexta-feira, 14 de novembro de 2008

Zon

Dei 60% de mim à impresa.

GPSos

Alvitro alvito, monte santo, Amaro, amo terra, ajuda de belem, menino, cristo, rei, presidencia.

Avisto ponte, mas não sigo.

cada macáco...

estou na espera, parado,
sou poça, buraco de fluido estagnado,
viveiro de dengue,
sou bicho, bizarro.

estou no erro, emenda,
sou custo mensal, sou renda,
lucro sem despesa,
buraco sem fundo, fenda.

estou no último plano,
microscópio, detrás do pano,
sou sombra chinesa,
resposta final, incerteza.

Estou à espera do minuto,
troco lugar,
permuto.

estou na paragem de encontrar lugar.

segunda-feira, 10 de novembro de 2008

paraíso

queria morar em "Reservado".
Nâo sei onde fica, mas deve ser sossegado, e tem uma bela rede de transportes.
A qualquer hora há um reservado para si.

Não me importava de morar em "Recolha", mas tem ar de dormitório.

sexta-feira, 17 de outubro de 2008

Aliteração

"repetição dos mesmos sons em palavras seguidas de um verso ou de uma frase, tendo como resultado um efeito fónico harmonioso"

Primos entre pares

Nada como um renault clio embaciado de fumo em quilómetros sem destino.
Vaguear, ser lugar do morto, mortalha, pegar no volante, direccionar.

abc

Escalho,
pénis teso de escalfeta,
sem escaliçar;
sou escalo.

Calo de punheta,
proveta,
dou mas não baralho,
pai. mas não sou.

Gota de caralho.

Simone

Sou por vezes,
Palavras que não entendo,
erros de errata
de última página,
Sem asterisco ou emendo.

Parágrafo esquecido de tipografia,
Letra mal impressa,
Página dobrada para regresso,
Volto expresso,
Entendo tudo, volto ao lugar.

Preguiça,
Livro que não acaba,
Desfolhar.

Tudo em mim, tem esse vagar,
tempo imenso, demorar...

quarta-feira, 15 de outubro de 2008

Goethe, disse:

" A poesia serve para aqueles que nada têm a dizer"

sexta-feira, 10 de outubro de 2008

Mais que um açor.

Sou angra de egoismo,
sou heroico na espera,
estou á espera da volta,
estou só, insular.

Segunda, como o tempo todo num beijo.

As amigas

"Ia muito a reuniões sociais. Cercavam-na rapazes sobre quem se exercia a sua sedução, e mais de um a amava. Não gostava de nenhum. e aceitava a corte de todos. Pouco se lhe dava do mal que podia fazer. Uma rapariga bonita diverte-se cruelmente com o amor. Parece-lhe natural que a amem e não se julga obrigada a coisa alguma, a não ser em relação ao que ela própria ama; de bom grado acredita que quem a ama já é feliz por isso."

ai, ai

Sou aliado de aliás,
Alienado de bom trato, bom rapaz.
Tenho tantas duvidas como certezas
Sou ingénuo e inteligente,
Sou demente, água ráz.

Sou agora, vai-te embora,
Excomungado, sem retrato, Satanás.
Sou tratado, sem retrato
Sou inócuo, indulgente,
Estou presente, sou capaz.

Apenas são palavras do que sou.
Somente.

este puzzle

-A Linda tá a chorar Zeca, porquê?
- Tá com conjuntivite, por isso tem os olhos vermelhos.
-Podes não me querer contar, mas não aches que eu sou parva. Ela chora. Caiem lágrimas!
Só depois, finalmente acreditei.
A Linda, é isso mesmo. Aguenta a dor no quotidiano, no passar o dia. Tenta não cair. É sustento.
Isso também é ir em frente. Guardar para si; ter esperança, esperar.

Há muito que não lhe via os óculos de sol, e estamos em Outubro.
Gostava de ser um pouco de sombra fresca.

domingo, 5 de outubro de 2008

Ainda era demasiado novo para tais ideais, naquele tempo, apenas desejava ser rei do mundo ou avançado do Benfica.

sábado, 27 de setembro de 2008

Sem anseime

Sou lábios de incertezas, dentes de interrogação,
Uns dias ladro, e mordo, outros falo e perco razão.


Mas não engulo sapos, isso não.
em cru, olhos fixos, encurralado,
preso no objecto perdido e pressionado,
sinto o mudar de pele, o mudar de penteado,
fazer peeling, cortar o encaracolado,
ser imagem não gravada, ser sem registo,
dactilografado,
digito, personalidade, sem personagem,
respirar apenas três vezes, existir,
apenas ser, ser capaz,
ser cru, não assar, ser assaz. não pensar

Leito

Eras a corrente e eu o rio…
Talvez pequeno ribeiro.
Movimentavas a minha força,
Forçavas-me a ter determinação,
Determinavas o meu tempo,
Temporalizavas o meu espaço,
Espaçavas-me as obrigações,
obrigavas-me a acreditar,
Credibilizavas a minha duvida,
Duvidavas da minha coragem,
Encorajavas a minha vida,
Vivias a minha vida,
Vivias a minha…
Eu era apenas a água;
Tu eras a força, o espaço, a margem,
Só em ti me podia movimentar.

RTP 2

Suspiro no ouvido, auricular,
Vejo, relembro, não consigo retratar,
Difuso e fosco, longe,
Passado de segundos, segundo plano,
em boca de cena sem teatralizar,
Apenas monologo,
Não respondo, não oiço, preso sem gesticular.
Sem personagem não espero godot,
nem que moliere me desperte,
Bate-me sem entranhar.


Segunda cena, cenário, seguir sem ultrapassar,
Medo rufia, escultura de altar,
Quase sagrado, respirar seco, soluçar,
Gelo, suor, difuso no olhar.
Fico em casa.

Darwin

Deixemo-nos de obstáculos,
Não temos rédea nem forças
Para sustermos o animal.
Temos aposta na velocidade
Mas requeremos técnica e apresentação.
Neste momento estamos à prova
E sabemos os requisitos,
guardamos amuletos somente para não dar azar.
Deixemo-nos de irreal,
Tenho forças para pegar os cornos,
Sou Darwiniano animal,
De subespécie sem parentesco,
Sub-cave, anti-social,
da periferia, à margem da marginal,
em mim , centro da questão, consciência moral.

Klint

Não resisto ao beijo
e entrelaço movimentos de boca,
Talvez excessivos,
Nos teus olhos,
Na cova da bochecha,
E no alto detrás da orelha.
Deixo sem preocupação licor terno,
o olhar, de novo, beijar, sem tempo,
Sem recordar, guardo.
Não resisto ao amor de mim,
amo-me, beijo-me, mimo-me, em ti.

Já passou...

Bebo mas não esqueço a situação impossível,
Onde morro, desespero, e resisto
Olho tudo como nada.
Tenho medo do toque do telemóvel,
Imóvel e irrequieto; não me deixo tocar.
Tento passar, mas não esqueço.
Sinto o fim da linha e não me consigo desligar,
Entregue e resignado, impotente.
Eu não sou assim.

Palavra chave

A tua essência neste fumo desenhada,
É perfume de incenso comum,
A vida queima,
Sem a cadencia do verso,
Repetindo, sem descanso, repetindo.


Os sons acompanham as sílabas, e meias palavras
As mãos são ecos e inibições, ecos.


Decoramos palavras-chave,
Abrimos portas, fugimos ao inverso,
Derretemos a sola dos sapatos, sem ritmo, sem sentido
Aquecemo-nos de pena, escaldámos o capilar,
A vida queima, é senso comum.

terça-feira, 26 de agosto de 2008


O morto descansa na praia
Os olhos de alguém que o fixa
Os abutres que se chegam ao mar
No silencio da maré vaga,
O pescador acena ao morto
A traineira morde a areia
Presença de nefasta cor
A criança que experimenta o desejo
A mãe que abraça a dor,
Redes atiradas ao sal
O castigo do tempo,
A rotina que corrói o corpo,
uma necessidade de descansar.
Outro dia morto.
De carinhos,
de ti quem sabe,
Amordaço ao peito
O desejo de algo superior,
Intimo,
Uma amizade
Que esbraceja mais forte,
Um ouvir sem palavras
o que para mim significas
Pássaro de asa curta
De olhos brandos
Amo amar-te assim
Simples,
sem compromissos ou velhas ideias,
Um sentimento que me isola,
Embora libertes em mim
Pássaro de asa curta
O desejo amordaçado ao peito

domingo, 3 de agosto de 2008

Não é que olhe, mais ou menos para ti.
Olho de maneira diferente, quase não consigo olhar.
Tudo,
Tudo na generalização, tudo numa só palavra,
Todos.

O outro está do lado de lá
De frente a mim,
quase ao contrário,
o esquerdo do outro,
Está à direita, enfim.
O outro também sou eu.
Ai de mim.
Curiosamente, Mário defrontava a luz
Com óculos fundo de garrafa,
E com a garrafa no fundo dos seus olhos,
bem segura nas mãos; firme.


Maria gostava de sol,
e de coisas com muita cor,
Tinha como sonho, ser espanta pardais,
Espalhafatosa e engraçada; feliz.


Mário nunca conheceu Maria.
Maria nunca conheceu Mário.


Porquê tantas palavras,
Nem todas as histórias se conjugam.


Digamos que Mário,
Viu a Maria ao sol,
Com braços abertos em asa.


Digamos que Maria
Via outra luz, nos óculos de garrafa,
Ou um outro mergulho no fundo desta.


Porquê tantas palavras. Apaga a luz.

domingo, 27 de julho de 2008

Viva!!!

é tempo de mudar,
de partir de férias, existir e ser feriado.
é tempo de deixar de ser ùtil,
utilizar o corpo ao bronze,
refletir sol,
mês mesclo, meredional.
é tempo para parar o relógio,
deixar de rezar e largar putos.
utilizar as manhãs feitas de manha,
ganhar o bronze das olimpiadas,
correr ao sol de bicicelta,
mês morto, mortalha.

Ser puto, rodopiar.

terça-feira, 22 de julho de 2008

És rosa sem classe ou cheiro
Fruta de Outono com bicho lá dentro.

Natureza morta.

Comprei o quadro pela moldura.
Olhos cerrados
Novamente cerrados
Sem sono
Parados
Olhos gastos.

Escrevo o que penso
Para não ter de dizer
Que sinto peso na esferográfica
Vontade imensa de adormecer.
Já nada fazia sentido,
Os outros eram nulos, invisíveis,
Fechávamos os olhos.

Hoje houve finalmente silencio.
Crias-te o esboço e o inqualificável. Não resultou.
Sais-te não te impedi.
Colávamos as margens com a minha ponte,
de única via, com portagens, sem saída.
Estávamos sufocados, perdidos;
Eu perdido dentro de ti, sem saber de mim,
Tu dentro de mim, sozinha a procurar-me.

O céu nunca te prendeu,
Voavas para fugir.

segunda-feira, 21 de julho de 2008

salmo

Quase de raiva dó de dormente, dor,
Sem nota nem anotação, sem gráfico de medida,
Equação.
Tudo matemático, de cabeça, pela raiz de cabelos,
Corte, cabeça rapada, tábua rasa, arrasar.

Sem aquilo que me escapa e faz falta ao condimento,
Sem papas, papo ou dente de alho,
Tudo cru
Conversa em ponto cruz, credo, bife em sangue,
Deus me livre, pão nosso.

sexta-feira, 11 de julho de 2008

O à mar, é.

Ondas de espuma ,
abraços de estrela ventosa
o mudar da maré.

Ser mexilhão na regusidade da rocha,
quieto, aceitar as rugas.

sétima

Neste silêncio, neste tempo
Aquela praia, aquele verso
Dorme o tempo, dormem as pessoas
Na tua voz, os teus braços;
Cortas o silêncio, cortas o descanso,
com os versos, na areia, as pessoas,
Neste tempo curto, estendido.
Como esta música,
que solta movimentos de criança;
brinco nos limites da idade.

sexta-feira, 4 de julho de 2008

RetraTo-TE

Adoro o que se ri, sem ser ridículo;
O que ignora, sem ser ignorante,
Aquele que é, sem querer ser.

Adore o tu, sem ser o eu;
adoro-Te.

Lulu e o dia balnear - II

O sol afinal não gozou o feriado, apenas pegou tarde ao serviço, disposto a mostrar trabalho e a recuperar o tempo perdido.
A mãe também ganhava tempo em manobras e atalhos, que embora sendo mais curtos, tinham mais curvas e pavimento irregular, conseguindo baralhar de forma exemplar, o estômago de Luísa. Encostou o carro, perdendo o tempo ganho, enquanto a filha detrás da arvore, afirmava “ já tou bem, não precisamos de voltar para casa”.
Luciana ampliou a capacidade da sua paciência seguiu em frente, enquanto a filha atrás, brincava com a boneca, que se movimentava em sítios específicos, predeterminados e estudados à exaustão. Linhas imaginárias, que delimitavam as divisões da casa, a piscina e o jardim arquitectado por arbustos labirínticos.
Nestes perderam-se homens e mulheres, que lá se iam encontrando e conhecendo. Outros perderam-se novamente de amores, alimentando-se de amoras, e bebendo das fontes que embelezavam o jardim.
Actualmente com um sistema de video-vigilancia, descobriam-se os menos afoitos, que eram resgatados por um helicóptero.
O chapéu de palha era o helicóptero, que durante a viagem já tinha salvo a Larbie e o Len quatro vezes.
Apesar da hora, a praia ainda se apresentava vazia, e a bola de borracha bege às bolinhas brancas, pôde saltar livremente pela areia. A bola era o mundo, que se sujava na areia, se lavava na agua seguindo o trajecto do empurrão. Parava quando não tinha mais força para avançar, ou quando as mãos diplomáticas de Luísa a seguravam.
Ela ficou cansada, dos músculos, da areia entranhada no dedo mindinho dos pés, da água gelada, do calor…cansou-se.
Comeu de enfiada o farnel e pediu à mãe para voltar para casa.

quinta-feira, 3 de julho de 2008

U
DO
TRÊ
QUAT
CINCO

quarta-feira, 2 de julho de 2008

O meu sotão

Visitar um sótão, reserva-nos sempre surpresas encantadoras.
Num armário, uma pilha de livros policiais, conservados numa pelicula espessa de pó. A meio da pilha, a descoberta.
Um livro escrito por um tal Sr. Wilson Tucker, provávelmente o seu nome "artistico", que tem como sugestivo titulo "Pago para morrer".
A capa tem um fundo vermelho sangue como se quer para qualquer policial, e a ilustracão é composta por uma mulher de biquini amarelo, com um revólver em segundo plano.
Debaixo do titulo, esta ilucidativa frase: " Duas irmãs, uma pequena mala, e um homem candidato a cadáver.
Contra-capa, e mais surpresas, uma sinopse do raio, que passo a trancrever.

"Clay gordon estava sem sorte, sem dinheiro e sem emprego. Um antigo camarada arranjou~lhe emprego e o dinheiro, mas Clay bem sabia que continuava a precisar de muita sorte no trabalho que tinha aceitado: nada menos que conduzir clandestinamente para fora do páis duas irmãs, uma das quais casada com um conhecido gangster e a outra amante ciumenta do mesmo Bandido".

Querem mais? Aqui vai.

"Viajavam com o minimo de bagagem, mas as duas irmãs para onde quer que fossem, não largavam a pequena mala de viagem. Pelo perigo que os rondava continuamente, Clay não tinha duvidas nenhumas que ela continha qualquer coisa de muito valor de que alguém tentava apoderar-se sem olhar aos meios, inclusive pelo assasinio.
Clay depressa conclui que lhe tinham PAGO PARA MORRER com um bilhete simples de viagem para a eternidade".

Saliento que é uma trancrição o conteudo e pontuação do texto, não são de minha responsabilidade.
O melhor para o fim, PERSONAGENS:

CLAY GORDON- um homem de muitas aventuras, a mais perigosa das quais quando se meteu a dama de companhia.

ANSON FORD- ajudou Clay a sair duma situação difícil para o enterrar noutra ainda pior.

SYLVANIUS MARCHI- os verdadeiros gangsters nunca se reformam, só mudam de poiso.

ANNETE- uma boa esposa, uma boa mãe, uma perfeita ingénua.

FUGERE- tinha mais cautelas com a pequena mala de viagem do que com a sua virtude.

BILLY-O-CHORÃO- não tinha sangue nas veias; tinha rum.

Como livro, é muito fraquinho, enquanto objécto dramático é de valor incalculável.

2 de junho 2008

“Vamos brincar ao toca e foge,

não é assim tão infantil, sem ser por isso menos ingénuo
ou necessário,
é por certo perigoso.
Podemos correr e arriscar,
dar o passo errado do tropeção,
nunca mais andar,
Dante`s é passado, escrita mofa e quente
e nós arriscamo-nos a escrever novas regras.

“Jogamos antes à apanhada? Para ser aprisionado no teu coito.”
!!!
“Agora a sério, estava a brincar. “

Lulu e o dia balnear - I

O dia era dedicado ao feriado e o sol aceitou a folga, no entanto a cesta estava preparada com os objectos balneares, e Luciana sabia que a sua filha não aceitaria o “não” como resposta.
Pesando o mais forte de todos os pesares, o mar e a areia esperavam-na.
Com o embalo do sono, e a perspectiva das marés, preparou o farnel, gritando “Luísa”, no fundo dos pulmões, enquanto preparava a última sandes.
A filha acordou logo, como se estivesse munida de um sistema activado por voz, uma resposta seguida à pergunta. Esperava à horas que o seu nome fosse debitado pelo corredor, e chegasse ao quarto em forma doce de convite. Como aquele do aniversário de Leonardo, esperou mas nunca recebeu.
O fato de banho às bolinhas, estava posto de véspera no cimo do cadeirão, assim como as sandálias de borracha rosa, os calções às riscas rosa, e o chapéu de palha que só se vendia com fita azul. Para sua grande tristeza.
Luísa vestiu tudo tão rápido, que as sandálias trocaram de pés, e os calções ficaram por debaixo do fato de banho. Passou então as mãos em concha nos olhos e desenhou na cabeça um sistema infalível, para que tudo saísse perfeito.
Começava pelas sandálias, cada uma no respectivo pé, o fato de banho, os calções, o chapéu, “os óculos, mãe”.
Onde estavam os óculos da feira, só o Sr. Leôncio vendia uns em forma de borboleta, que ela tanto gostava.Aqueles que em dia de muito calor, olhando directamente para o sol, batiam asas, fazendo os pés flutuarem pelo tórrido asfalto.
Este ano a mãe já tinha comprado três, e ainda hoje não sabe o destino dos dois anteriores.Poderia jurar que os deixou no cadeirão, dentro do chapéu, debaixo das bolinhas do fato e das riscas dos calções.
Ainda por cima a mãe tinha prometido (promessa parva, achava Lúisa)que eram os ùltimos que lhe comprava este verão.
Ficou triste e desmoralizada, os olhos como que se refrescando de tanto calor, escapavam lágrimas, que se uniam às gotas de suor nas bochechas.
O problema não apresentava solução, pelo menos solução fácil. Quase lhe lembrava os exercícios de matemática da professora Lina.
- “Mãe os óculos” e saiu disparada do quarto.

Aos queridos

A vossa pressão positiva faz-me avançar.

segunda-feira, 16 de junho de 2008

16 de junho

Sentou-se na minha mesa de café
Tratou-me pelo meu nome próprio,
Pediu café e cravou-me um cigarro.
Passámos o tempo a olhar os olhos,
Eu os dela, e ela os dela também
No reflexo dos óculos.
Disse apenas adeus de sumisso,
Nunca mais a vi.

quinta-feira, 12 de junho de 2008

À sua sorte

O Sr. Artur apostava na cautela em toda a ocasião semanal, sem contar com a lotaria da Páscoa, reis, Carnaval, Férias Grandes...papava-as todas.
O número era sempre diferente, com uma terminação sempre igual, 42.
Para ele também as relações tinham um início diferente, que no entanto esperava sempre o mesmo término, o fim.
Chamavam-lhe de Cauteloso, não só pelo seu amor às cautelas, como pelo temperamento com que as pessoas o tinham em conta. Ele não ligava ao nome, nem às coisas que o ligavam a este, gostava de cautelas e detestava alargar-se em extensas análises introspectivas, no entanto achava-se pacifico.
Certo dia, há demasiado tempo para se lembrar dos anos que tinha nessa altura, encontrou um quiosque. Um qualquer, que só a vontade o torna no numero um das preferências, um “top” de postos de venda de jornais e tabaco, um verdadeiro exemplo do apoio do governo ao comércio tradicional.
Esse quiosque tinha uma vendedora, a vendedora para Artur era bonita. Embasbacou-se Artur a olhar para Rosália, ela cheirava bem, a rosas.
Ele olhou para ela, e ela gostou, gostou dele.
Artur não soube o que pedir.

Apesar do quiosque habitar o outro lado do bairro, Artur visitava-o todos os dias, muitas vezes, todas as que podia; e ele podia sempre.
Tornou-se fumador, comprava cromos e cadernetas, jornais, revistas, pensos rápidos, isqueiros e todo o restante “stock”, à vez. Até um elástico cor de rosa com a cara do pateta, para uma suposta sobrinha, que nasceu sem ele conhecer um único irmão.
Eles sabiam que se amavam, e a confirmação veio nos dias seguintes de cautelas e dos mais vícios que adquiriu com Rosália. Vícios bons até o corpo aguentar a pressão do continuo, numa caneta que vai esgotando a tinta, ou uma página que já não tem margem para mais palavras.
Dias arrastados de colecção até ao ultimo cromo, à espera de um cigarro final.
O fim veio-o anunciado, em primeira página de jornal, sem crime, mas capital, expresso em 24 horas, tal & qual.
A experiência escusou lágrimas, e a certeza de novas de novas duvidas acalmou o coração. Um amor de 42 dias, terminação, ponto final.

terça-feira, 10 de junho de 2008

10 de Junho de 2008

Ele pediu para ela esperar 2 minutos, depois escondeu-se atrás da porta, consultou o relógio, e esperou os 2 minutos contratados.
- Agora é a minha vez de brincar, “ disse ela.
Fugiu para jogar à apanhada, ele nunca mais a apanhou.

sábado, 7 de junho de 2008

não é por mal

Posso fumar vizinha?
O fumo incomoda-a, por certo.
Talvez o acto de fumar?
É o prazer do acto que a incomoda?
Icomodo-a apenas, e encontrou razão para contestar.
Vou fumar.
Tem lume vizinha?

Não têm, deixe tar.

sexta-feira, 6 de junho de 2008

ter como princípio, algo que encontre um fim.
milim
etro c
ubicO

6 de junho de 2008

Os ângulos não eram oblíquos nem rectos,
não se tocavam, não tinham dimensão,
eram encontros, sem linhas ou ligação,
eram diáspora sem conhecer palavra,
simples vocabulário, sem espaço para todas as letras
Conversa encabulada, quadrada, limitada,
Códigos, palavra cruzada.


Quando escrevo numa folha livre,
Não tenho limites, não consigo parar,
Fico preso na cadencia,
esperando o ponto final.


Quando desenho, sou cavalinho de rédeas
em superfície áspera,
Desgasto-me, tento-me retratar.


Quando o assunto se torna pessoal,
fia mais fino, calo o bico.

quinta-feira, 5 de junho de 2008

Já que não estamos juntos, ficamos próximos.
Não acaba a comunicação, mas há menos rede
interferências no canal.
Já não metemos água mas andamos à chuva
e metemos os calos na poça
apanhamos constipação.
Já que estamos doentes, diagnosticados de solidão,
vamos ser um e meio, um quarto para as dois,
fazemos quantidade, mantemos relação.

Já que não estamos juntos, estou só.

Símbolos e valores de vida

Li-Peng servia na mesa 32, o prato 15 e o vinho 2.
Esta noite, 15ª do mês 4 do ano de 1999 que corria, já tinha servido 84 pratos, 97 refrigerantes, 23 garrafas de vinho, sem contar os inúmeros copos de água ou guardanapos de papel.
Para Li-Peng, já tudo era + ou - =, contas de + a / pelos clientes da mesa 3, ou a % de lucros do patrão.
Servia a pessoa A ou B pela ordem Z, sem ligar ao de jet do cliente. Não se importava de trabalhar apenas X horas ou de ganhar apenas Y, para ela nem tudo era $. Tinha amor à camisola.
Ela não era um 0 à esquerda nem XPTO, não tinha uma beleza KO, mas era OK.
Não escolhia os ventos, mas semeava tempestades, assegurando a vida na bonança, arrastando-a devagar, até longe. Longa vida.

quarta-feira, 4 de junho de 2008

4 de junho 2008

Agito sem mexer, para não borbulhar,
Sem liquidificação, sem condensar,
Dou o tempo, congelo e guardo os ossos,
É oficio de esperar, o pouco, pouquexinho.
Sem terra, enterrar, passado, sem lugar.
Agito-me quando tremo certeza, sou impulso sem vagar,
sou ideia trémula, divagar, sem distancia, nem meta,
Metamorfose, sem corpo. Destilar.
Sou transformação, laboratório, lagar.
Tempo sem vagar
Raios parta, o que se parte, o que se separa, estilhaçar,
Unidos somos partículas , tão nossas, particular.
Sou o guarda da esfera púbica.
O esconder, vestir, dissimular.
Sou tanga que me veste, despe, e não me protege,
sou frágil, herege,
Não acredito nas cores, nem na encarnação
Sou cinzento, quase razão.

Porquê um blogue ?

Um blogue é como as cuecas, todos as têm e todos as usam. Certo?
Ou pelo menos quase todos, ainda resistem alguns "cowboys", e por vezes a máquina de lavar fica avariada ou tempo não ajuda a secar a roupa.
Este blogue vai ajudar-me a estar sempre próximo de quem não encontro sempre, de escrever o que já há muito está guardado em gavetas, ou desabafar alegrias e contrariadades do dia a dia.
Este blogue é para todos os meus amigos ou anónimos que me queiram suportar