segunda-feira, 16 de junho de 2008

16 de junho

Sentou-se na minha mesa de café
Tratou-me pelo meu nome próprio,
Pediu café e cravou-me um cigarro.
Passámos o tempo a olhar os olhos,
Eu os dela, e ela os dela também
No reflexo dos óculos.
Disse apenas adeus de sumisso,
Nunca mais a vi.

quinta-feira, 12 de junho de 2008

À sua sorte

O Sr. Artur apostava na cautela em toda a ocasião semanal, sem contar com a lotaria da Páscoa, reis, Carnaval, Férias Grandes...papava-as todas.
O número era sempre diferente, com uma terminação sempre igual, 42.
Para ele também as relações tinham um início diferente, que no entanto esperava sempre o mesmo término, o fim.
Chamavam-lhe de Cauteloso, não só pelo seu amor às cautelas, como pelo temperamento com que as pessoas o tinham em conta. Ele não ligava ao nome, nem às coisas que o ligavam a este, gostava de cautelas e detestava alargar-se em extensas análises introspectivas, no entanto achava-se pacifico.
Certo dia, há demasiado tempo para se lembrar dos anos que tinha nessa altura, encontrou um quiosque. Um qualquer, que só a vontade o torna no numero um das preferências, um “top” de postos de venda de jornais e tabaco, um verdadeiro exemplo do apoio do governo ao comércio tradicional.
Esse quiosque tinha uma vendedora, a vendedora para Artur era bonita. Embasbacou-se Artur a olhar para Rosália, ela cheirava bem, a rosas.
Ele olhou para ela, e ela gostou, gostou dele.
Artur não soube o que pedir.

Apesar do quiosque habitar o outro lado do bairro, Artur visitava-o todos os dias, muitas vezes, todas as que podia; e ele podia sempre.
Tornou-se fumador, comprava cromos e cadernetas, jornais, revistas, pensos rápidos, isqueiros e todo o restante “stock”, à vez. Até um elástico cor de rosa com a cara do pateta, para uma suposta sobrinha, que nasceu sem ele conhecer um único irmão.
Eles sabiam que se amavam, e a confirmação veio nos dias seguintes de cautelas e dos mais vícios que adquiriu com Rosália. Vícios bons até o corpo aguentar a pressão do continuo, numa caneta que vai esgotando a tinta, ou uma página que já não tem margem para mais palavras.
Dias arrastados de colecção até ao ultimo cromo, à espera de um cigarro final.
O fim veio-o anunciado, em primeira página de jornal, sem crime, mas capital, expresso em 24 horas, tal & qual.
A experiência escusou lágrimas, e a certeza de novas de novas duvidas acalmou o coração. Um amor de 42 dias, terminação, ponto final.

terça-feira, 10 de junho de 2008

10 de Junho de 2008

Ele pediu para ela esperar 2 minutos, depois escondeu-se atrás da porta, consultou o relógio, e esperou os 2 minutos contratados.
- Agora é a minha vez de brincar, “ disse ela.
Fugiu para jogar à apanhada, ele nunca mais a apanhou.

sábado, 7 de junho de 2008

não é por mal

Posso fumar vizinha?
O fumo incomoda-a, por certo.
Talvez o acto de fumar?
É o prazer do acto que a incomoda?
Icomodo-a apenas, e encontrou razão para contestar.
Vou fumar.
Tem lume vizinha?

Não têm, deixe tar.

sexta-feira, 6 de junho de 2008

ter como princípio, algo que encontre um fim.
milim
etro c
ubicO

6 de junho de 2008

Os ângulos não eram oblíquos nem rectos,
não se tocavam, não tinham dimensão,
eram encontros, sem linhas ou ligação,
eram diáspora sem conhecer palavra,
simples vocabulário, sem espaço para todas as letras
Conversa encabulada, quadrada, limitada,
Códigos, palavra cruzada.


Quando escrevo numa folha livre,
Não tenho limites, não consigo parar,
Fico preso na cadencia,
esperando o ponto final.


Quando desenho, sou cavalinho de rédeas
em superfície áspera,
Desgasto-me, tento-me retratar.


Quando o assunto se torna pessoal,
fia mais fino, calo o bico.

quinta-feira, 5 de junho de 2008

Já que não estamos juntos, ficamos próximos.
Não acaba a comunicação, mas há menos rede
interferências no canal.
Já não metemos água mas andamos à chuva
e metemos os calos na poça
apanhamos constipação.
Já que estamos doentes, diagnosticados de solidão,
vamos ser um e meio, um quarto para as dois,
fazemos quantidade, mantemos relação.

Já que não estamos juntos, estou só.

Símbolos e valores de vida

Li-Peng servia na mesa 32, o prato 15 e o vinho 2.
Esta noite, 15ª do mês 4 do ano de 1999 que corria, já tinha servido 84 pratos, 97 refrigerantes, 23 garrafas de vinho, sem contar os inúmeros copos de água ou guardanapos de papel.
Para Li-Peng, já tudo era + ou - =, contas de + a / pelos clientes da mesa 3, ou a % de lucros do patrão.
Servia a pessoa A ou B pela ordem Z, sem ligar ao de jet do cliente. Não se importava de trabalhar apenas X horas ou de ganhar apenas Y, para ela nem tudo era $. Tinha amor à camisola.
Ela não era um 0 à esquerda nem XPTO, não tinha uma beleza KO, mas era OK.
Não escolhia os ventos, mas semeava tempestades, assegurando a vida na bonança, arrastando-a devagar, até longe. Longa vida.

quarta-feira, 4 de junho de 2008

4 de junho 2008

Agito sem mexer, para não borbulhar,
Sem liquidificação, sem condensar,
Dou o tempo, congelo e guardo os ossos,
É oficio de esperar, o pouco, pouquexinho.
Sem terra, enterrar, passado, sem lugar.
Agito-me quando tremo certeza, sou impulso sem vagar,
sou ideia trémula, divagar, sem distancia, nem meta,
Metamorfose, sem corpo. Destilar.
Sou transformação, laboratório, lagar.
Tempo sem vagar
Raios parta, o que se parte, o que se separa, estilhaçar,
Unidos somos partículas , tão nossas, particular.
Sou o guarda da esfera púbica.
O esconder, vestir, dissimular.
Sou tanga que me veste, despe, e não me protege,
sou frágil, herege,
Não acredito nas cores, nem na encarnação
Sou cinzento, quase razão.

Porquê um blogue ?

Um blogue é como as cuecas, todos as têm e todos as usam. Certo?
Ou pelo menos quase todos, ainda resistem alguns "cowboys", e por vezes a máquina de lavar fica avariada ou tempo não ajuda a secar a roupa.
Este blogue vai ajudar-me a estar sempre próximo de quem não encontro sempre, de escrever o que já há muito está guardado em gavetas, ou desabafar alegrias e contrariadades do dia a dia.
Este blogue é para todos os meus amigos ou anónimos que me queiram suportar